sábado, 22 de setembro de 2007

4ª edição. Setembro 2007

ilustração: Ignacio Yunis

O Mago Realizações apresenta a 4º edição da Mostra Mensal de Animação A Caverna.

. 27 de setembro 18h:30 nos jardins do Palácio Cruz e Sousa. Praça XV de Novembro, 227 - centro

. 28 de setembro 18h:30 no cineclube da Fundação Cultural BADESC. Rua Visconde de Ouro Preto, 218 – centro.

Entrada gratuita.

Serão exibidos curtas-metragens de consagrados e jovens diretores da animação brasileira: Alexandre Bersot, Marão, Rosaria, Alê Camargo, Éder Cardoso e Yanko del Pino.



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terça-feira, 18 de setembro de 2007

As animações de Alexandre Bersot












Pavloviana - 2004


O ilustrador e animador Alexandre Bersot falou para a Caverna sobre suas animações, que serão exibidas na 4º edição. Leia o que o autor fala sobre Pavloviana, A Última Lenda, Justiça Emplaca e Vivendo e Aprendendo.

PAVLOVIANA (2004)

Quando li o conto de três páginas de Samuel Bueno, vi que ele tinha uma “configuração” perfeita para uma animação. O conto é curto e frio (no estilo do autor), mas essa frieza também serviu para eu imaginar que a animação também deveria seguir por esse caminho, ser impessoal, ter uma atmosfera mais carregada nas tintas. E Pavloviana se desenhou na minha cabeça desse jeito.
Definida a visualização do filme, foi preciso escolher a técnica que melhor a representasse. Neste caso, cenários e personagens coloridos a lápis e também o uso de papéis como o kraft compuseram a atmosfera necessária.
Depois foi feita uma grande adaptação do conto, mas na verdade não foi uma tarefa difícil: se estamos falando de Pavlov, estamos falando de condicionamento e repetição, que tem tudo a ver com animação. Então resolvi levar a repetição ao máximo, tantos nas cenas em ciclos quanto na repetição destas cenas ao longo do filme.
O resto é trabalho duro: garimpo de sons, gravações de vozes e muitos, muitos desenhos, realizados na mesa de luz e com a régua de animação, coloridos e depois digitalizados para, enfim, serem montados em seqüência.
Muitos me perguntaram porque a música Dream a little dream of me foi usada, se a canção não tem nada de repetição, pelo contrário. Mas assim como a música Sabiá, que seria o tema da mãe do garoto, “Dream...” foi usada justamente para quebrar a monotonia que estava por vir, por mais estranho que possa parecer fazer isso no início! Mas a música também tem um apelo “plástico” muito grande no movimento compassado dos operários e no travelling da câmera sobre as casas e dá uma idéia de que a manhã ainda é um período em que as pessoas ainda não se lembraram de seu condicionamento ou de sua condição.

A ÚLTIMA LENDA (2006)

Outro conto, este de Clayber Cova, serviu de inspiração para esta animação. Um conto que era de terror virou uma animação cuja intenção era emocionar, não assustar. Os seres demoníacos da história original foram substituídos por entidades do nosso folclore.
Resolvi usar a mesma técnica de Pavloviana, com a diferença que as cenas foram colorizadas no computador, pois o filme é todo ambientado numa noite escura e seria mais rápido e fácil trabalhar com as cores com mais precisão.
A canção Criaturas da Noite (O Terço) foi escolhida por motivos óbvios e pensei nela antes mesmo de começar a esboçar alguma coisa. Já a música de Tchaikowsky foi escolhida por ser estranhamente silenciosa e ter momentos perfeitos de drama intenso, além de ser, claro, belíssima.
Existe um problema quando se trabalha praticamente sozinho numa produção: o tempo. Depois de um ano e meio desenhando as cenas, o traço mudou muito e podemos notar algumas diferenças, que num trabalho em equipe são mais fáceis de ser observadas e corrigidas.

JUSTIÇA EMPLACA (2006)

Há muito vinha esboçando a idéia de fazer uma animação com placas de trânsito. Até que um dia (ou melhor, numa noite, já quase dormindo), veio a sacação: trabalhar com a natureza violenta dos humanos onde quem sofre as conseqüências é um boneco de placa. O non-sense dos desenhos animados usado aqui para mostrar atos irresponsáveis da vida real, como este estranho hábito de atirar em placas de trânsito.
Acostumados que estamos à banalização da violência, surtiria efeito uma animação onde um tiro ricocheteasse numa placa e acertasse uma criança, por exemplo? Concluí que não: “matar” a “criança” da placa seria mais estarrecedor, por mais estranho que parecesse.
O resto ficaria por conta da interpretação de cada espectador. Vingança? Acaso? Covardia? Arrependimento?
Quanto à técnica escolhida, a primeira razão foi o tempo. Como sou ilustrador e trabalho muito com colagens digitais, resolvi usar a mesma técnica, só que animada. Não queria desenhar, esta temática não pedia desenho, mas fotos. Aqui, um desenho animado faria a história perder sua força, além de ser um processo muito demorado pelas etapas a serem seguidas.
Então todas as cenas foram criadas num editor de imagens com as camadas separadas. O personagem “humano” é um monstro feito de mim mesmo: olhos, braços, mãos, retalhos de roupas. Os cenários foram feitos com fotos antigas, dioramas e miniaturas de carros. Tudo isso de uma maneira que pudessem ser manipulados dentro do programa de animação e edição. E o resultado está aí.

VIVENDO E APRENDENDO (2007)

Tinha apenas um mês e meio para realizar este curta sob encomenda. Não havia nada: idéia, argumento, roteiro. A única coisa certa era de que o curta deveria mostrar o dia-a-dia de um trabalhador de rede da Telemar (Oi). Mostrar suas dificuldades no trabalho, o excesso de carga horária, a falta de tempo, os perigos a que se expõe... e também o lado bom, que é a requalificação profissional, a conclusão dos estudos, a sindicalização, a conquista da cidadania.
Aí tive a idéia de fazer uma simulação de videogame. Afinal, quem não compara sua vida a um jogo? Labirintos a vencer, dificuldades a superar, obstáculos a transpor. Era isso.
A técnica não poderia ser outra: cara de SuperMario, mas rodando nos consoles mais antigos, com gráficos bem chapadões, animações em ciclos de poucos frames, movimentos rápidos e repetidos. E deu certo, a identificação com os trabalhadores foi total.
As músicas foram escolhidas para combinar com as situações, e todas elas são arquivos MIDI monofônicos, como nos antigos games.Todo realizado no computador, da mesma forma que Justiça emplaca, com personagens e cenários em camadas, movimentados diretamente no programa de animação